sábado, 31 de julho de 2010

Pelos ares

Há dias em que até tomar um taxi dá nos nervos. Principalmente quando se está em uma fase pão-com-ovo, em que todos os gastos supérfulos têm de ser evitados ao máximo. Taxi é supérfulo, e eu não lembro se vai acento. Pôr via das dúvidas, acento só aquele em que eu descanso meu lindo traseiro ítalo-descendente.

Último dia do mês. A grana do mês passado já era, e a deste que se finda já está com seu destino escrito; dias turbulentos, movimentados e emocionantes se aproximam no trabalho; vestibular se aproximando cada dia mais; meu aniversário também. À propósito, falando em aniversário e emoções, semana passada, quando eu estava meio atacado, minha vizinha se aproximou de mim e disse que eu estava assim por eu estar vivendo meu inferno astral-não lembro se elas usou essas palavras exatamente, mas foi isso que quis dizer-, que é um período, segundo ela, que ocorre 30 dias antes do parabéns pra mim. Olhei pra ela e me segurei pra não perguntar se ela não queria ir, de repente, dar uma voltinha no inferno astral.

Não sei porque motivo as pessoas adooooooram encontar alguém abstrato para colocar a culpa por suas falhas. Ou é a astrologia, ou foi Deus que quis, ou foram as estrelas... acho que elas responsabilizam um ser que não seja feito de matéria porque, certamente, ele as encheria de pancada. Se eu acredito em Deus? Claro que acredito, mas não é por isso que vou colocar a culpa por minhas falhas n'Ele, que deve ter muito mais o que fazer do que ficar ouvindo minhas lamúrias. A gente tem todas as ferramentas pra fazer as coisas da melhor maneira, mas nãããão, insistimos em ir pelo outro lado que, sabemos, será mais difícil. Hoje, por exemplo, eu estou estressado, querendo quebrar meio mundo, mas porque eu não me organizei, não acompanhei minha agenda, dormi mais do que devia. E agora estou puto comigo mesmo. Ah, também esqueci no trabalho uma salada e uns tomates que eu faria pro almoço amanhã. Imbecíl...

Mas está tudo bem... Michael Bublé está tocando em meu computador e, logo, logo, eu volto a ficar mansinho. Até que o próximo estresse me pegue.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Os problemas dos outros e os meus

Eu sou uma pessoa estressada. Meu trabalho me consome, eu me consumo, e mais um monte de coisas me consomem. Sou a pessoa mais egoísta do mundo, quero atenção, quero carinho, quero amor, será que é difícil entender isso? É difícil perceber que eu me esforço pra dedicar atenção, tempo, afeto a quem eu amo? Pelo jeito parece que sim.
Na verdade eu sou uma pessoa idiota, tosca. O segredo do negócio é ocultar o que se sente, mas até agora eu não consegui fazer isso com quem eu realmente amo. Com as pessoas que não representam muita coisa pra mim fica mais fácil eu dizer não, inventar uma desculpa qualquer e dizer que estou ocupado, que outra hora eu ligo, ou que o almoço precisa ser desmarcado. Mas, com quem eu realmente me sinto bem, é impossível fazer isso. E o que me desespera é saber que as pessoas que eu amo podem não me amar, e por isso tem um tipo de comportamento totalmente avesso ao meu. Só pode ser isso: eu devo amar as pessoas erradas. E nasci pra ser sozinho também.
Sei que esse é um momento de depressão e que vai passar, mas eu estou cansado de ser verdadeiro com quem eu amo e receber patada de volta. Eu sou um ser humano também, eu tenho necessidade de me sentir amado, querido, desejado, importante na vida de alguém. Eu tenho um coração que, acreditem, não é de gelo ou de ouro! É de gente mesmo, que bate e bombeia sangue pra todo o corpo, e que também tem sentimento. Custa entender isso? Meu manual de instruções não é escrito em termos científicos, não tem palavras difíceis, caramba! Será que é tão difícil entender que eu odeio que mandem recados, que eu não compreendo muito nas entrelinhas, que eu preciso que as coisas fiquem bem claras, que sejam ditas realmente, não que estejam subentendidas. Têm coisas que não fazem parte de um texto qualquer para ser interpretado em uma aula de Língua Portuguesa. Sentimentos são muito mais delicados do que uma vassoura ou uma porta ou um caderno qualquer.
Estou quase concluindo que o problema sou eu, e não as pessoas que eu insisto amar. Eu quero saber dos problemas de quem eu amo, afinal eles são meus também, é difícil compreender? Eu não sou forte, caramba, sem alguém que me apoie. Eu já tenho que dissimular ser uma fortaleza na sociedade, eu sou obrigado a fingir que sou até na intimidade? Eu choro - e muito -, e não acho feio, nem sinônimo de fraqueza, não entendo porque segurar o choro diante de mim. Uma hora ou outra eu também vou precisar de alguém pra secar um balde que eu enchi de lágrimas.
Ninguém entende isso, não há nada que eu possa fazer. Idiota eu, quem manda eu não me fazer como todo mundo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vó, dá uma carona?

Hoje, tive minha atenção chamada por uma coisa muito, mas muito corriqueira mesmo. Eu estava dentro do ônibus assim, como quem não quer nada, indo pra casa, quando olhei pela minha janela e vi uma senhora, mas senhora mesmo, de, no mínimo, 80 anos, dirigindo seu carro, feliz da vida. Como já disse, eu sei que isso não tem nada de anormal, mas aquela cena me chamou a atenção de uma maneira ímpar. O semblante daquela senhora transmitia uma independência que me deixou envergonhado. Detalhe: ela estava sozinha dentro do carro, em uma das avenidas mais movimentadas de Florianópolis.
Naquele momento, minha mente viajou e eu me vi conversando com ela e dizendo Vó, dá uma carona? Eu quis convidá-la para tomar um café comigo e ouvir a história da vida dela. Quem seria aquela senhora que me causou tanta admiração pelo simples fato de estar dirigindo? Seria uma professora, médica, advogada, psicóloga aposentada? Seria ela uma dona de casa, apenas? E os lugares por onde ela viajou, as pessoas que conheceu? Terá marido? Teve filhos? Quantos? O que eles fazem?

Não sei se foi porque convivi muito pouco com minhas avós, mas imaginei aquela simpática coroa me dizendo: Ro, vem cá que a vovó está com saudade de ti, meu netinho. Tá bom, eu sei que estou delirando, mas foi isso que eu senti. Tive vontade de abraçá-la e dizer que ela era vovó mais querida que eu já conheci. Se ela tiver netos, que eu acho que ela deve ter uma meia dúzia, no mínimo, espero que eles saibam tratá-la bem.

Não sei de onde ela veio, tampouco pra onde estava indo; se era judia, católica ou pagã; se tinha o nome limpo ou se estava no SPC; se era mocinha ou vilã. A única coisa que sei é que meus olhos escolheram ver a imagem de uma pessoa amada, que viajou por muitos lugares, fala várias línguas, é a melhor vó do mundo.