segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Os outros e nós mesmos

A revolta não dá em nada. Verdade, não adianta se empanturrar de chocolate que as coisas os problemas vão ficar com medo e sair correndo. No máximo você sairá rolando, de tão gorda(o) que vai ficar. Quer pagar pra ver?
A vida é feita de momentos, uma ova. E o "que seja eterno enquanto dure" é uma desculpa esfarrapada que as pessoas encontram pra colocar a culpa e fingir que está tudo bem. Porque na verdade, nada está bem, todos estão se tasgando por dentro de tanta dor. E por que não admitir que está doendo? Por que fazer de tudo pra esquecer? Será que sofre menos quem se conforma com o que os malditos dos outros esperam de nós? É sempre assim: atrás de uma fortaleza, sempre tem um idiota que faz a gente pensar que do jeito que as pessoas fazem é o melhor.
Tá, eu sei que eu falei, falei, e estou seguindo pelo mesmo caminho. É que tem um bloqueio que impede que as pessoas se entreguem verdadeiramente, que falem o que sentem de verdade. É ridículo falar do que se sente, é terrível sentir saudade, é pior ainda voltar atrás. E eu estou aprendendo a lição. À força, é bem verdade, mas fazer o quê, se todo mundo age assim? Devemos seguir o script, vestir o figurino e dançar segundo a banda, cujos maestros são os outros, e fazer cara de pessoas felizes e civilizadas, enquanto os sapatos, as calças e os vestidos nos deixam totalmente desconfortáveis. Tudo isso pra quê? Pra agradar a plateia que nos assiste, também composta pelos outros. Não importa se os outros são nossos pais, mães, irmãos, maridos, esposas, ex - alguma coisa, amigo... desconhecido.
A droga da música toca, e passamos a vida dançando um ritmo que não curtimos. Os outros, da mesma forma, num ciclo vicioso.
Quem são os outros? Sou eu, é você, somos nós.

Surpresa!

Eu já estou me acostumando. Fazer o quê, é a vida, né? Ir ao cinema sem companhia acabou por tornar-se a coisa mais comum do mundo. Nas duas últimas quintas-feiras assisti a filmes, só. Sentei na última fileira pra atrapalhar os casaisinhos que procuram um pouco mais de privacidade nos últimos lugares. Mas o cinema estava quase vazio, e, por ironia do destino ou coisa parecida, ninguém sentou por lá. Os filmes eram ótimos, valeu a falta de companhia.
Várias pessoas são mal-amadas e nem por isso desanimam. Eu sou uma delas. Cheguei à conclusão de que quando pensamos ter chegado ao fundo do poço, sempre dá pra cavar mais uns metros. No sábado, foi a revelação do amigo-secreto do meu trabalho. Eu estava na expectativa para saber quem havia me tirado, o coração aos pulos horas antes da festa, quando, de repente, chega minha colega:
- Rodrigo, telefone pra ti na recepção.
-Pra mim? Eu existo na vida de alguém! Ou... - disse eu, enquanto me dirigia à recepção, aflito, pensando inúmeras besteiras, pois ninguém me liga nem no celular, quiçá no trabalho!
-Alô?! - atendi.
-Oi, Rodrigo, aqui é a Camila! - respondeu, amável, a voz do outro lado.
- Tudo bem, Camila? - perguntei, também amavelmente, sem saber quem era Camila.
- Rodrigo, eu tô ligando pra dizer que tu é o meu amigo-secreto. Eu saí da empresa e não vou mais à festa. Mas eu passo no Bob's em meia hora... Se tu quiser passar lá pra pegar teu presente, eu levo.
Foi horrível. Senti como se um balde de água fria estivesse sendo jogado em mim. Cadê o espírito do amigo secreto? Eu queria a emoção da surpresa em saber quem tinha me tirado, a descrição das qualidades ou defeitos, todos os colegas ligando as descrições às pessoas e "chutando" nomes. O presente é apenas o arremate, a cereja do bolo.
Depois dessa, voltei ao meu posto e me perguntei o que, ainda, me restava naquela noite. Por que eu perguntei. Não deu cinco minutos que passou um senhor, queixando-se que estava com bichos-de-pé.