segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ao alcance

Há pouco eu estava tentando responder à pergunta que todo mundo já se fez ou fará: qual o sentido da vida? E descobri, ainda que tenha pensado por poucos minutos, que as respostas são muitas.
Eu acredito que cada um, em determinado momento, encontrará uma resposta que se encaixe com a atual fase por que está passando. No meu caso, as conclusões a que cheguei foram as seguintes:
Primeiro, acho que vida é o que acontece no intervalo entre a nosso primeiro e último momento de existência; entretanto, não consegui definir se a vida tem início no momento da fecundação ou mais adiante, e se ela termina quando perdemos a consciência ou quando não há meios de fazer nosso coração bater. Depois, conclui que a cada dia que vivemos é um dia que estamos mais longes do nosso início e um dia mais próximos do fim. Então, percebi que talvez os mistérios se escondam nesse intervalo entre início e fim. Cada dia que passa não é só um dia a menos de vida, mas é um dia mais perto de conhecer Paris, terminar a faculdade, ter um filho, construir uma família, viajar pelo mundo, aprender a dançar, tocar piano ou nadar. Talvez esse dia a menos que pode nos causar medo do fim, seja um dia a menos de conhecermos o amor da nossa vida, de ganhar na loteria, ou - por que não? -, de cicatrizar uma ferida. Esses dias, uma amiga me disse que leu em algum lugar que eu não lembro nesse momento, uma pesquisa que dizia que o tempo que levamos para esquecer um amor é de aproximadamente cinco anos. Se é verdade, eu não sei, só sei que pode ser uma esperança aos que tiveram seu coração partido em algum momento. Das duas uma: ou falta um dia a menos para o amor mal-curado voltar, ou um dia a menos para que seja esquecido de vez! E, pra quem estava desesperançoso que esse dia pudesse não chegar, em vida, quem sabe é a tábua de salvação que faltava para acreditar que vai ser possível viver outros amores e perceber que o fim não é tão ruim como se imaginava. Sem melancolias, mágoas ou ressentimentos, esse dia pode estar próximo, ainda mais se levarmos em conta a velocidade com que eles passam...
Por último, concluí que por mais próximos do fim cheguemos, há milhares de coisas mais próximas do que ele. Quem sabe, seja só acreditar...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Currículo

Hoje aconteceu um fato fora do comum. E bom. Fatos fora do comum e bons, em se tratando de mim, são um pouco estranhos. Ei-lo:
Meu colega de trabalho, depois de me ver por meses a fio sozinho, concluiu que eu estava com teia de aranha e resolveu dar um empurrãozinho. Logo que chegamos à empresa, ele me disse que um amigo iria jantar conosco nesta noite. E disse, ainda, que havia galado de mim pra esse seu amigo, que deve ter ficado com pena de mim e quis me conhecer para, quem sabe, tentarmos algo. Eu, como sou meio cabreiro com qualquer cara que cai de pára-quedas na minha lavoura fiquei um tanto reticente, tentando imaginar algum possível dente faltando em sua boca, ou uma barriga enorme comparada a um corpo tão... tão... vamos dizer desprovido de altura. Mas, não custava tentar, vai que, né?!
Então, nessa hora comecei fazer o checklist para saber se estava tudo em dia - mulheres e pessoas com alma feminina pensam sempre as mesmas coisas: Desodorante: ok. Perfume: ok. Depilação: ok - ufa, essa eu fiz hoje. Hálito fresco: ok. Roupa íntima decente: merda, justo hoje coloquei uma cueca preta desbotada, da época que Noé construiu a arca. Droga! Caralho! Já pensei em inventar uma desculpa pra passar em casa e trocar a cortina de mausoléu. Não que eu seja uma pessoa desesperada, mas, nunca se sabe, jantar, pode ser que role vinho, ou pior!! QUÍMICA! Ai, fudeu! Não deu mais tempo, ele entrou no salão. Bem-vestido e apresentado, alto, daqueles caras com quem a gente tem vontade de passar o inverno todo na Serra, tomando vinho e vendo filme romântico debaixo das cobertas, ouvindo coisas bonitas e agradáveis e, se rolar um eu te amo é game over. No entanto, fui despertado assim que a conversa começou:
"Lour, esse é Roberto, meu amigo de quem te falei."
Oi, Roberto, prazer em conhecê-lo.
"O prazer é meu, Lour! O Miler me falou tanto de você que eu mal podia esperar pra te conhecer."
"Ora, imagina! Eu nem sabia que hoje sairíamos pra jantar, nem passei em casa pra me arrumar." - nessa hora, meu cérebro pensou "cueca maldita cueca maldita".
"Não tem importância, o Miler me falou tanto e tão bem de você que mesmo se eu te visse sem roupa ficaria encantado."
[Nessa hora, eu cuspi toda a tequila que estava no meu copo e senti minhas bochechas em chama.]
"Não quis ofender, tome o que eu disse como um elogio."
"Claro, claro... eu é que não estava preparado pra um elogio tão... tão... ahn...
"Espirituoso!" - interveio o Miler.
"Era exatamente o que eu queria dizer." Falei isso e tomei um martelinho de tequila. Fez-se um  silêncio eterno entre nós três, até que o cupido resolveu falar.
"Então, o Lour deixou um currículo na sua ex-empresa semana passada."
"Sério, eu não sabia que você queria trabalhar conosco!"
"Pois é, o Miler me falou tão bem do lugar onde você trabalhou que eu quis pleitear uma vaga no setor administrativo." Nessa hora, senti que o álcool revirava meus pensamentos e misturava as palavras. Mesmo assim, tentei me explicar. "Pois é, levei o meu currículo, e o seu gerente, o Júnior, me chamou para conversar no escritório. Eu tenho um problema com entrevistas, fico sempre muito ansioso e começo a tremer. O Júnior me passou segurança, pediu meu currículo e EU DEI PRA ELE."
"O Miler não tinha me falado nada disso! Estou surpreso que o Junior tenha feito isso, geralmente não é do feitio dele..."
Sem me dar conta das merdas que eu falava, prossegui:
"Sim, então, no dia seguinte, o Negão - que é outro gerente- pediu que eu passasse lá porque também queria me conhecer".
"E você foi?"
"Claro!" Nessa hora eu não sabia mais como formar uma frase. "Não só fui, como dei pra ele também."
Nessa hora, o Roberto se retirou e eu gritei pra ele, enquanto todos me olhavam:
"Ei, não fica bravo, não, se você quiser, eu dou pra você também."