segunda-feira, 21 de maio de 2012

Indomados

Hoje eu me senti dentro de uma novela. A Indomada. Só faltou Maria Altiva gritando Oh chente mai gódi. E o cadeirudo correndo atrás de mim. E eu estar de pijama pra que ele me perseguisse, claro, senão não teria graça.
Tudo começou porque eu queria dar uma espairecida. Então, eu fui para um dos lugares mais frequentados da Ilha durante o verão, mas que, no inverno, fica quase deserto, não fosse os habitantes deste simpático vilarejo. Simpático durante o dia porque, logo que escureceu, a noite ficou na penumbra. A iluminação pública era insuficiente para dar conta de tanta neblina. E eu, como sou traumatizado com assaltos, ficava imaginando um terrorista em potencial quando avistava qualquer pessoa, mesmo que fosse uma vovozinha, andando na rua. Também, o que a velhinha tinha de fazer na rua com aquela escuridão. Eu já me imaginava sendo capaz de dar um golpe qualquer de arte marcial na coitadinha, caso ela resolvesse me assaltar. Lógico que se ela tentasse me roubar não seria tão coitadinha assim. Às vezes, até tentava posar de malandro quando vinha alguém em minha direção, mas acho que ficava meio ridículo aos olhos de quem passava, que se tinha alguém pensando em fazer alguma maldade, não fazia porque ficava com pena. Sim, porque vestido completamente com cores claras e combinando, acho que eu não convencia muito como malandro. Agora, como retardado, certamente eu não sou convencia como devia comover.
Então, delícias, hoje era isso. E lembrem-se: nas noites de lua-cheia, cuidado com o cadeirudo. Ele jura que não, mas pode voltar.

domingo, 20 de maio de 2012

Eu mereço

O fundo do poço não é quando você ainda está dentro do buraco e rezando em agradecimento por ainda não estar coberto de terra. O fundo do poço é quando você se dá conta de que arranja uma nova decepção pra superar uma antiga. E essa corrente dos infernos, acaba quando, cacete? - é o que eu me pergunto.
Pois bem. se o encardido- a temerosa força do mal -existe, ela seleciona uma parte das pessoas para fazer dele vítimas. Ele deve escolher as pessoas mais frágeis e vulneráveis pra isso. Por que ele não escolhe um armário de 1 metro e 90 de altura? Ele é diabólico mas não é louco. Sobra sempre pras almas boas, caridosas, que devolvem a carteirinha do RU ao dono distraído que a perdeu, ou para aqueles que sempre falam a verdade, não jogam lixo na natureza, se preocupam com as causas ambientais e choram por coisas bobas. Claro, é mais fácil tentar esse grupo de viventes e fazer com que eles se ferrem cada vez mais.
Pra variar, hoje eu estou bem. Fiz uma cagada por acidente, mas estou aprendendo a lição: de todas as coisas que dão errado, sempre dá pra dar umas risadas e - por que não? - tirar uma lasquinha.
Foi isso que eu fiz hoje. Se o maligno pensa que eu vou me lamentar e ficar chorando, aviso logo ele pra que vá tomar um bom banho de água-benta. Afinal, eu sou loiro e não sou obrigado a aceitar, sempre resignado, às regras que ele impõe. Se ele me colocar mais uma tentação no meu caminho e, por ventura, eu cair, eu antes de cair vou me esbaldar com ela. Dá licença, né.
Errar é humano e eu erro de vez em quando. Quem não erra? E, também não foi tão grave assim. Eu só confundi duas coisas completamente diferentes e minha boca grande não se conteve. Aos maliciosos que estão lendo, que não pensem besteira, pois eu falei boca GRANDE  e não GULOSA.
Quanto aos pastores de Igrejas fundadas em porões de bodegas baratas, não me ataquem pelo que escrevi, por favor, uma vez de que o encardido a que me referi não é o mesmo que vocês usam pra tirar dinheiro do povo que, por enquanto, tem fé.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

À moda antiga

Hoje eu queria estar um pouco mais animado, mas está meio difícil já que a água do meu prédio acabou. Tudo bem que está frio e que ninguém vai me usar, mas a questão é a higiene e nem tanto o fato de não ter ninguém pra relar. Não sou muito chegado em banho de canequinha, bem ao contrário de uma antiga vizinha dos meus pais, italiana, que, no inverno, tomava banho sentada atrás do fogão à lenha. Ela também fazia queijo colonial pra vender, e dizia que a sujeira que se acumulava debaixo das unhas saía todinha. Melhor nem pensar pra onde ia essa craca. Agora, me vejo acordado, esperando a água voltar pra poder tomar banho e dormir.
Isso faz eu me lembrar das vezes, quando eu era criança e morava no sítio, e morria de medo de perereca. Sim, perereca. Uma espécie de perereca eu tenho medo, já a outra, não gosto mesmo. Voltando ao assunto, eu detestava a ideia de dividir o mesmo mundo com as verdinhas. Elas eram tão repugnantes, frias e assustadoras que eu imaginava terem vindo de outro planeta - o Planeta das pererecas -. Só que as danadinhas, volta e meia, apareciam no banheiro e queria disputar território comigo. Era eu ligar o chuveiro e pegar o sabonete pra logo avistar aquele monstro grudado a uma das paredes geladas. Impossível ser indiferente diante de tão abominável monstro que me observava em momento tão íntimo. Como eu não era louco pra aceitar passivamente aquelas situações - que não foram poucas -, eu berrava e logo minha mãe vinha em meu socorro. Até o dia em que ela cansou e disse que eu já era mocinho e estava em tempo de eu cuidar sozinho da perereca. Então, para evitar dissabores e tendo em vista que aquele espaço era pequeno de mais pra mim e pra perereca, tomei a atitude mais sábia e a que considerei mais cabível naquele momento, que foi a de deixar o banheiro todinho pra ela e tomar banho no tanque da lavanderia por alguns dias, até que ela tomasse o rumo dela e fosse desbravar outras paredes azulejadas.
Hoje eu cresci e, comigo, cresceu também o medo de anfíbios, repteis e afins. E eu continuo de mau- humor.