domingo, 30 de dezembro de 2012

Crescer


Os dias passam devagar enquanto que os anos voam. Lembro que, quando criança, eu não via a hora de me tornar adulto e independente. Sim, porque quando somos nanicos e não precisamos correr atrás para prover o nosso sustento, a independência é um sonho de consumo mais valioso que qualquer outra coisa. Entretanto, o tempo passa e começamos a dar os primeiros passos com nossas próprias pernas. E é aí onde começam a surgir os primeiros desafios.

É certo que uma hora ou outra deixaremos a barra da saia da mãe e começaremos a correr em direção aos nossos ideais. No início, fritar um ovo é uma aventura e cozinhar feijão, missão impossível. O arroz queima na panela, a roupa fica manchada com sabão em pó, as camisetas ficam com uma linha bem no meio do peito que indica que recém saíram do varal e nem sequer viram um ferro de passar.
As contas são um desafio que eu, particularmente, tenho dificuldade em vencer. Gasto mais do que tenho sempre e, quanto mais ganho, mais gasto. Quando a gente começa a ficar adulto entende o significado prático da palavra insônia. Parece castigo dos céus quando olhamos uma roupa na vitrina e queremos comprá-la e, ao sermos informados pelo vendedor do preço, abrimos aquele sorriso amarelo-desmaio e soltamos o tão famoso hoje só estou dando uma olhadinha – e damos uma olhadinha mesmo, para nos certificarmos de que nossa mãe não está por perto para fazermos aquela birra básica até ela dizer que esta é a última vez que vai ser vencida por nossa cara feia de choro.

Quando crianças, as únicas pessoas que amamos são as que jamais – via de regra -, vão deixar de nos amar: pai, mãe, irmãos e avós. Já quando crescemos e nosso corpo começa a passar por mudanças, bem como nossa cabeça, conhecemos pessoas novas e uma dessas pessoas vai balançar legal com nossas emoções, bem mais do que nossas experiências fraternais foram capazes. Se tivermos sorte, seremos correspondidos e viveremos felizes para sempre; como esse tipo de amor não segue o script de amor de pai e mãe, geralmente é nessa época que aprendemos o que é sofrer por amor. E, é nessa fase também, que juramos nunca mais entregar nosso principal órgão vital a ninguém. Prometemos a nós mesmos que nosso coração – pobrezinho – vai passar a morar dentro de uma jaula e que a chave dessa jaula será jogada fora para que nunca mais se aventure por aí. Isso funciona, até que alguém encontra a chave e vem até nós para entregá-la. E é nessa hora que o coração que estava adormecido na sua linda gaiola acorda, fica agitado e rompe as grades que o aprisionavam. E uma nova história começa a se desenrolar, com as mesmas chances de dar certo – ou não.

Amadurecer é necessário, não que seja uma tarefa das mais fáceis. As escolhas nem sempre são simples e as pessoas que passam por nós também têm suas histórias, suas crises, seus momentos. E é por isso que devemos desenvolver habilidades para atingirmos o máximo de independência possível. Porque esse máximo nunca será, necessariamente, mais do que o mínimo.