sábado, 30 de junho de 2012

Dentinho lindo

No início - bem no início -, eu não tinha dentes. Nem eu e nem nenhum ser humano normal. Com alguns meses, minha gengiva começou a coçar e eis que apontam os primeiros. Tive febre e tudo. Não que eu me lembre disso, mas é o que concluo pelas observações desta fase quando meus sobrinhos eram bebês. Por volta dos 5 anos (???) eles começaram a cair. E, felizmente, nasciam de novo, senão eu seria banguela. E eu  ganhei um bom dinheiro com a fada dos dentes. Eu era tão feliz porque a fada vinha em uma noite, deixava as moedas sob meu travesseiro e não levava o dente. Então, no dia seguinte, meu pai dizia que se eu deixasse meu dente no jardim do meu padrinho, ela me daria mais moedas. E eu o fazia, só que neste caso, o dente sumia. Até o dia em que o sem-graça do meu irmão, já pré-adolescente e sem mais nenhum dente para a fada comprar resolveu contar a verdade e dizer que a fada não existia, e que eram meu pai e meu padrinho quem colocavam os trocados e levavam o dente. Provavelmente ele jurava que eu ia ficar desiludido e nunca mais ia cair no conto da safada. Confesso que fiquei meio desapontado, como quando da vez em que ele revelou que nem coelho da Páscoa nem Papai-Noel existiam, mas como eu era mercenário, refleti e conclui que poderia me fazer de leitão e aproveitar pra ganhar mais um dinheirinho com os demais dentes que eu esperava que caíssem. E eles caíram. E novos nasceram. E os anos passaram e eu me preparava para quando os siso chegassem. Significaria que eu já estava adulto. Mal sabia eu o que me esperava...
Minha boca só tem espaço para vinte e oito dentes. Por isso, quando os quatro últimos começaram a nascer, por volta dos meus dezenove anos, foi como se eu estivesse entrando em trabalho de parto. Um parto que demoraria quase quatro anos para chegar ao fim. Nascia um por vez, e esse processo levava cerca de uns oito meses. Sentia dor durante uns quine dias, passava um mês e não sentia nada, a dor retornava por duas semanas, depois ia embora, depois outro dente resolvia dar as caras, e os dentistas se recusavam a arrancá-los. Porque não era na boca deles, óbvio. Até que um dia o terceiro molar inferior esquerdo resolveu dar as caras. Então o dentista topou extraí-lo, conforme contei  nessa postagem. E agora o último infeliz, filho da #%7@ resolveu me atordoar. Troquei o antigo odontólogo por uma que é um amor, muito querida, competente, e tudo de bom. Só que eu dei a mancada de resolver tirar o filho da #%7@ justo na última semana de aula do semestre, porque temia que ele me incomodasse durante as férias e n]ao me deixasse comer as maravilhosas comidas que a minha mãe faz, como aconteceu no verão passado. Só que não imaginava passar 3 dias tomando apenas sorvete, iogurte e sopa fria. Fiquei feliz porque, há pouco, consegui comer bolacha de mel. Nem estudar para as provas eu consigo. Não sinto dor nem estou com o rosto inchado, só não quero pisar na bola e estragar tudo agora com um peito de frango grelhado com arroz à grega e batatas gratinadas com ervas.
O bom de tudo isso é que um dia vou lembrar desses episódios e vou rir, enquanto conto pra alguém. Ah, meus 23 anos... e uns juízos a menos.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

12 de junho

Estava aqui lendo algumas postagens que escrevi em outros tempos. Pra ser mais preciso, as que escrevi há um ano, por volta do dia 12 de junho. Entre algumas letras comidas durante a digitação, encontrei comigo mesmo um pouco menos vivido. Um ano não é muito tempo. Ou é, dependendo do que e de quem você tem. Eu, por exemplo, tenho pouco mais do que a mim mesmo, e leia-se por esse pouco mais todas as pessoas e coisas maravilhosas que fazem parte da minha vida e a quem eu humildemente nomeei como pouco mais.
Deste seleto grupo, fazem parte poucos que são os mais importantes da minha vida. Meus poucos amigos - pirados, surtados, parceiros, engraçados, que me fazem rir quando penso surto e penso que o fim do mundo acabou com a barra de chocolate -, minha família maluca, de tradição italiana, que come bem, fala alto, ri muito e chora pouco, além de jogar baralho, me proteger, brigar comigo, dizer que eu sou muito novo pra isso e muito velho para aquilo, e que sempre está do meu lado quando preciso de qualquer coisa. Sem contar na minha faculdade, que toma grande parte do meu tempo, e na qual eu aprendi sentindo na pele o que significa ser auto-didata.
Bem, eu não sei o que seria de mim se uma vírgula do que vivi estivesse fora do lugar em que foi colocada. Eu me sentia e me sinto um pouco estranho, às vezes, por não estar namorando na idade que estou. Todo mundo que eu conheço e que é normal, que teve ou tem a minha idade, namora, já namorou ou está em vias de. Eu também namorei. Uma única vez. E fui do céu ao inferno, sem escala no limbo. Senti a adrenalina do início, dos primeiros encontros, de não ter o que dizer, de tentar encontrar qualidades em mim pra poder ressaltar, tentando esquecer os defeitos, fiz planos, sonhei, fui cuidado, cuidei, me entreguei, até que tudo acabou e eu fiquei querendo mais. E eu desejei tudo de novo, mas as coisas não aconteceram segundo meus planos e este é o segundo 12 de junho que eu passo solteiro, depois do término do meu curto namoro.
Eu li alguns apelos na internet que, ainda que de brincadeira, senti um fundo de verdade e desespero, do tipo Alugo-me para o dia dos namorados. Tiro foto, beijo na boca e digo que amo. É engraçado, fofo e convidativo, até. Mas me parece meio vazio e eu não tive coragem de compartilhar no meu facebook. Porque eu não sou uma simples peça exposta em uma loja de fantasia. Eu não me alugo, não tenho preço e minha companhia não é contabilizada por horas. Eu me doaria, deixaria que me levasse, diria sim se fosse de meu agrado. E o meu preço seria minhas próprias pernas tremendo, meu coração quase saltando boca afora, minhas mãos suando e eu tremendo por completo, como que em um orgasmo antecipado. Não tenho manual de instruções, mas se não souber me usar, me devolva pra mim mesmo. Se, por ventura, me estragar, eu me conserto, basta um tempo em repouso, e tudo volta a ser como era antes. Não exatamente igual, mas um pouco mais resistente é bem provável.
Neste dia dos namorados vivamos o lado bom de ser solteiro. Levemo-nos pra debaixo das cobertas, ofereçamo-nos uma taça de vinho, umas rosas, uns bombons e a nossa própria companhia, da qual muitos de nós estamos carentes. Viva nossa solteirice, seja por opção, ou por falta dela.