Os dias passam devagar enquanto que os anos voam. Lembro
que, quando criança, eu não via a hora de me tornar adulto e independente. Sim,
porque quando somos nanicos e não precisamos correr atrás para prover o nosso
sustento, a independência é um sonho de consumo mais valioso que qualquer outra
coisa. Entretanto, o tempo passa e começamos a dar os primeiros passos com
nossas próprias pernas. E é aí onde começam a surgir os primeiros desafios.
É certo que uma hora ou outra deixaremos a barra da saia da
mãe e começaremos a correr em direção aos nossos ideais. No início, fritar um
ovo é uma aventura e cozinhar feijão, missão impossível. O arroz queima na
panela, a roupa fica manchada com sabão em pó, as camisetas ficam com uma linha
bem no meio do peito que indica que recém saíram do varal e nem sequer viram um
ferro de passar.
As contas são um desafio que eu, particularmente, tenho
dificuldade em vencer. Gasto mais do que tenho sempre e, quanto mais ganho,
mais gasto. Quando a gente começa a ficar adulto entende o significado prático
da palavra insônia. Parece castigo dos céus quando olhamos uma roupa na vitrina
e queremos comprá-la e, ao sermos informados pelo vendedor do preço, abrimos
aquele sorriso amarelo-desmaio e soltamos o tão famoso hoje só estou dando uma olhadinha – e damos uma olhadinha mesmo,
para nos certificarmos de que nossa mãe não está por perto para fazermos aquela
birra básica até ela dizer que esta é a última vez que vai ser vencida por
nossa cara feia de choro.
Quando crianças, as únicas pessoas que amamos são as que
jamais – via de regra -, vão deixar de nos amar: pai, mãe, irmãos e avós. Já
quando crescemos e nosso corpo começa a passar por mudanças, bem como nossa
cabeça, conhecemos pessoas novas e uma dessas pessoas vai balançar legal com
nossas emoções, bem mais do que nossas experiências fraternais foram capazes.
Se tivermos sorte, seremos correspondidos e viveremos felizes para sempre; como
esse tipo de amor não segue o script de amor de pai e mãe, geralmente é nessa
época que aprendemos o que é sofrer por amor. E, é nessa fase também, que
juramos nunca mais entregar nosso principal órgão vital a ninguém. Prometemos a
nós mesmos que nosso coração – pobrezinho – vai passar a morar dentro de uma
jaula e que a chave dessa jaula será jogada fora para que nunca mais se
aventure por aí. Isso funciona, até que alguém encontra a chave e vem até nós
para entregá-la. E é nessa hora que o coração que estava adormecido na sua linda
gaiola acorda, fica agitado e rompe as grades que o aprisionavam. E uma nova
história começa a se desenrolar, com as mesmas chances de dar certo – ou não.
Amadurecer é necessário, não que seja uma tarefa das mais
fáceis. As escolhas nem sempre são simples e as pessoas que passam por nós
também têm suas histórias, suas crises, seus momentos. E é por isso que devemos
desenvolver habilidades para atingirmos o máximo de independência possível.
Porque esse máximo nunca será, necessariamente, mais do que o mínimo.
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