quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cair... de maduro?

Hoje, enquanto eu voltava pra minha casa, presenciei a situação que, pra mim, de longe é a mais constrangedora deste início de ano: eis que duas senhoras vinham em minha direção enquanto conversavam, muito distraídas da vida. Bem quando estavam ao meu lado uma delas não percebeu que havia uma falha na calçada, tropeçou e caiu completamente esparramada no chão, espalhando as compras que carregava em sacolas. E ficou ali, imóvel, por alguns instantes, que eu cheguei a pensar que ela havia batido com a cabeça e ficado inconsciente. Felizmente, logo em seguida ela se levantou e os únicos machucados eram os seus joelhos. Diante do acontecido, eu e mais algumas pessoas que passávamos por aí não sabíamos se o melhor a fazer era parar para acudir ou continuar nossos caminhos, de tão constrangida que a mulher aparentava estar. Entretanto, ela não deveria estar mais sem jeito do que nós, que a observamos cair.
Pra mim, foi uma situação muito difícil quando me dei conta da vergonha que aquela distinta senhora sentia. Ela parecia não acreditar que aquilo havia acontecido; nos pensamentos dela, devia se perguntar como pôde não ver aquela arapuca disfarçada de meio-fio. A situação até pode parecer engraçada, e concordo que seria, se fosse em uma vídeo-cacetada do Faustão, mas eu vi o semblante envergonhado daquela transeunte e agradeci por não ter sido eu a vítima.
Até pensei em dizer a ela que não aquilo poderia ter acontecido com qualquer pessoa, mas como dizer isso a uma desconhecida que acaba de se levantar de uma queda com os joelhos ralados? Por mais que ela tenha se sentido mal com o acontecido, eu acho que consegui me sentir pior por não poder fazer nada que a consolasse; se fosse eu que tivesse tropeçado e caído, não iria me consolar com as palavras amigas de estranhos, por mais sinceras que pudessem ser. A dor que ela sentiu pelo machucado físico eu senti dentro de mim por não ter nada que eu pudesse fazer para amenizar sua vergonha.
Depois de perceber que não era nada grave, decidi continuar andando de volta pra casa e pensando em quantas vezes as pessoas já me viram despencar feito jaca podre. A queda a que me refiro não é à queda física, o tombo que deixa cicatrizes e marcas pelo corpo, mas as tropeçadas que a gente dá na vida por estar distraídos e não ver que à nossa frente tem um buraco que irá nos engolir; e o pior disso tudo é saber que as pessoas sabiam que a gente iria cair, tentaram avisar e, nos nossos devaneios, não prestamos atenção às evidências de que daríamos com a cara no chão. E, neste tipo de queda, a pior parte é levantar e ver os olhares em nossa direção dizendo: eu bem que avisei, mas você é teimoso, não quis me ouvir. Agora está aí, todo ralado. E, quando isso acontece, temos diante de nós duas opções: permanecer com a cara no chão, temendo levantar e ouvir críticas e sermões, ou levantar em encará-los.
É fato que uma hora ou outra o machucado cicatrizará, ou os olhares serão disparados em direção à outra pessoa desavisada que, não percebendo as pistas que em sua frente tem uma armadilha, irá se esborrachar no chão. Por isso, cabe a nós termos consciência de que ninguém é apto a julgar os erros de quem quer que seja, porque é impossível saber como é o caminho que está à sua frente.

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